Acato a derrota remetendo-me ao silêncio, actuando do mesmo modo quando de vitória se trata. Sempre fui reservado nos meus sentimentos. Raramente exteriorizei sentimentos de vitória quando obviamente esta acontecia
E isto pelo respeito que um adversário me merece. Aprendi quando praticava desporto federado, tanto no rugby como no squash ou na natação.
Em política é evidente que isto não é verdade. O referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez demonstrou essa realidade.
Sempre me cheirou a hipocrisia e jogadas de baixos sentimentos “caridosos” e pios lamentos lamecha por parte do “Não” e interessei-me mais directamente em saber até que ponto a hipocrisia, a sacanice das pessoas e de algumas organizações ditas “responsáveis” podem chegar. Não foi difícil concluir que vivemos num mundo normal de anormais.
A razão principal para que alguém se oponha à despenalização do aborto tem como base única a liberdade sexual da mulher. Desta ninguém me convence do contrário. O que vier a seguir, embora de peso importante, é de certa maneira acessório.
É com base nesta premissa que se assistiu por parte do “Não” a acções maquiavélicas de movimentos de evidente “caridade” duvidosa para com as mulheres que engravidam contra sua própria vontade, ao pseudo apoio de associações femininas (?), de tenebrosos movimentos “de vida”, políticos de honra duvidosa, sectores médicos de carácter corporativo/fascista, etc, etc.
Como cereja no topo do bolo vem a acção militante da igreja Católica. Mais uma vez saiu chamuscada!
É de se lhe tirar o chapéu. Nunca vi tantas freiras e “tementes ao senhor” a caminho das delegações de voto como ontem dia 11 de Fevereiro. Vinham inclusive em autocarros “previamente” e “cuidadosamente” alugados para levar essas “almas” bondosas e penitentes a votar no “Não”.
Entre outros mimos, vem-me à lembrança a acção de excomungar e ameaçar com o fogo eterno do inferno quem votasse “Sim”.
Isto só pode vir de mentes doentias, de organizações tenebrosas, diabólicas e terroristas (e ainda se tem a lata de falar em fundamentalismos religiosos por parte de outras crenças).
Pela primeira vez na minha vida perdi o respeito e a consideração por quem perdeu. Nem sempre podemos ser tolerantes. Há que ser duro para com esta gente.
Regozija-me e muito a vitória do “Sim”, nem que existam alguns pontos que eu gostaria de ver clarificados.