O Pesadelo

 O Pesadelo

Tive um sonho. Digamos antes, um pesadelo. Nesta fase da minha vida tem sido normal.

Mas sonhei que estava num grande asilo para “loucos”, (“malucos” agora não se pode dizer) no alto de uma montanha encantada dominando um imenso e maravilhoso panorama.

Na ampla e franca entrada principal, um letreiro gigantesco dizendo “Asilo Ocidental”.

Sem portas, nem mesmo grades, apenas sensores, câmaras de vigilância por todos os lados, arcos-íris suspensos, uma celestial transparência bem-vinda para muitos, mas menos para mim, o louco mais desesperado de todos.

Estava internado num Manicómio e, sem saber, tinham-me mudado o nome: agora chamavam-me Napoleão, porque - assim me disseram – em todo o manicómio que se preze há sempre alguém que pensa ser Napoleão.

Talvez por esse nome tão exigente eu tivesse ficado amigo de um certo Mefistófeles, um louco meio estranho, muito reservado, com uma grande sala só para si, cheia de telas e computadores, de onde ele me afirmava a pés juntos, que dirigia todo o Mundo.



Ora aqui está alguém mais louco do que eu, pensei, especialmente porque todas as noites, ele discretamente saía para relatar as suas acções a outros loucos.

Revelou-me com grande sigilo, que o seu chefe chamava-se Princeps Huius Mundi, mas não sei o que isso significa, porque só conheço a minha própria língua e um pouco de globish, o grunhido unificado dos alienados Ocidentais.

Contou-me que numa escola americana, um diretor foi demitido, por mostrar para alunos do sexto ano, uma estátua de um nu de David, do divino Michelangelo.

Parece que alguns pais ficaram indignados e a exibição foi considerada pornográfica.

Ao mesmo tempo – Mefistófeles é um trabalhador esforçado, sempre alerta, de plantão – informou-me que noutro local do mundo, obviamente a Ocidente, na gelada e lúgubre Finlândia, a universidade da capital, conferiu a Greta Thunberg, uma sueca paranoica e obcecada pelo meio ambiente, um diploma honorário em teologia.

Revelou-me outro de seus sucessos mesmo aqui ao lado na vizinha Espanha, onde tal “ser” é muito popular.

Os seus seguidores estão presentemente no governo: nesse período aprovaram uma lei - chamada lei trans, na qual está escrito, entre outras coisas, que qualquer um pode pedir ao Cartório para ser registado com o sexo - num hospital psiquiátrico tal gente chama-se “género” - que ele prefere.

Como exemplo, soube que um concorrente ao posto de polícia declarou-se mulher e derrotou as concorrentes femininas nas provas de aptidão.

Assim foi contratado e, obviamente, hoje está entre nós no Asilo Ocidental.

Os amigos espanhóis de Mefistófeles não se ficam por aí: imaginem que estão a aprovar uma lei que vai conferir direitos "humanos" aos primatas superiores, ou sejam; macacos, orangotangos, gorilas e chimpanzés.

Não entendo como vão lidar com eles, mas o asilo está bem organizado: já montaram um gabinete especial com directores, gerentes, psicólogas, médicos (deixa-se de utilizar a expressão veterinários) e dedicados funcionários.

Vivemos realmente no melhor e mais inclusivo asilo possível.

Confiando na amizade de Mefistófeles, perguntei-lhe como é que o Ocidente conseguiu encher o asilo.

Deu-me como resposta um longo discurso cheio de palavras difíceis – materialismos, propaganda, programação neurolinguística, desconstrução, teoria crítica, niilismo e muitas outras.

No entanto agarrei a frase que me pareceu mais importante, mais ao alcance de todos nós, até aos simples loucos como eu; “A maioria das pessoas não lê, não se informa, não se interessa por nenhum insight: na prática não sabe absolutamente nada. Mas assim que a televisão conta uma história ou divulga uma notícia, as massas tomam partido e acreditam mesmo sem saber de nada. Eu, diz Mefistófeles dedico-me a trabalhar sobre essa massa incapaz de pensamento autónomo e faço com ela o que bem-quero.”

De facto, e aqui para nós os loucos, é surpreendente que as pessoas não saibam o que é David, quem foi Michelangelo, não sintam com a alma e o coração a extraordinária grandeza daquele mármore de que se fez carne sob os golpes de um cinzel.

No asilo somos, sem dúvida ignorantes, principalmente se temos habilitações literárias que nos tornam orgulhosos, arrogantes.

Mas nem eu pensei que não sabíamos nada sobre Michelangelo e confundimos David com Rocco Siffredi.

“Veja bem, disse-me Mefistofeles; durante a pandemia – operação da qual participei com a colaboração de muitos responsáveis ​​pelo submundo – todos acreditaram nas máscaras, na eficácia de picadas estranhas, exatamente como estão convencidos de que é conveniente não ter o próprio dinheiro no bolso, que a identidade digital e a inteligência artificial são uma coisa linda, ou seja, o sistema de controle absoluto.

E continuou em clima de confidências,

- Por isso abrimos os portões e construímos um hospital psiquiátrico do tamanho de uma civilização; a Ocidental.

- Para alem disso era preciso fazer mais: criar como se uma nova religião fosse. Ou melhor, uma crença de massas, com os seus ritos, seus símbolos, seus sacerdotes, seus oradores.

- Inventamos o verde, o meio ambiente, convencemos os ocidentais de que a Terra está em perigo por causa deles, mandamos profetas e profetisas pelo mundo.

- Uma é Greta, uma menina cheia de problemas – tão parecida com as jovens do hospício ocidental – que a carregávamos como a Madona Peregrina da religião, entre aplausos e pedidos de milagres. Faltava apenas nomeá-la teóloga, ou seja, especialista na nova Deusa e no novo Olimpo, a religião climática.



Chocado com as revelações, com angústia e falta de ar, tentei acordar: em vão.

O pavor mantinha-se!

Mefistófeles, vendo-me em apuros, ligou urgentemente para o psiquiatra de serviço, que me encheu de drogas psicotrópicas.

Disse que eu teria de me acalmar.

Teria de aceitar a situação e que nada como o uso exacerbado de remédios, para me sentir relaxado, calmo, sorridente e feliz.

Diante das minhas admoestações, ele conduziu-me a uma ala do asilo onde um número incalculável de pessoas vivia, cada um por sua conta, com seus "vícios", ou segundo Mefistófeles, seus propósitos de vida.

Alguns dedicavam-se ao jogo, outros ao consumo de "substâncias" (a palavra drogas é proibida e Mefistófeles diz que muitas outras palavras são proibidas, devem ser mudadas para nos fazerem felizes), assim como outras relacionadas com aqueles “princípios” que as crenças erróneas de ontem chamavam de "pecados capitais".

- Veja como eles estão felizes, disse Mefistófeles com ar de gozo.

- Tudo graças a nós.

Entretanto e à socapa, não tomei as pílulas. Consegui escondê-las.

Não tive coragem. Tais pilulas não me pareciam fazer feliz e ver "céus artificiais" (como me disse Mefistófeles). Para mim pareciam mais verdadeiros infernos.

Outras pílulas, mais potentes, encomendadas pelo psiquiatra a certas enfermeiras que nos acompanham por toda a parte, também me foram propostas.

Consegui igualmente evitá-las e até questionei Mefistófeles como foi possível chegar-se a considerar a pornografia uma das mais poderosas obras de arte universais.

A resposta veio de uma paciente que ouviu tudo; desgrenhada, malvestida, malcheirosa, cheia de tatuagens, com cabelos tingidos de cores não naturais, tal ser vomitou com ódio as suas verdades sobre mim:

- A arte é o código estético dos homens brancos heterossexuais mortos, então o David não é uma obra-prima, mas uma estrutura de dominação contra os oprimidos.

Nesse momento eu não entendi mais nada e pedi ajuda ao Senhor (Deus???).

Nunca o tinha feito: as Erínias de sempre, amparadas por um paciente em traje de bispo, advertiram-me para não me dirigir a Deus de maneira masculina.

Como nos sonhos, onde tudo pode acontecer, Greta também apareceu, com seu boné pontudo de graduada, o olhar mais carrancudo e feio do que nunca, mandando-me não emitir CO2 e não poluir o manicómio. 


Bem-intencionada como só os teólogos como ela podem ser, entregou-me um livrinho com instruções:

não devo fazer mais lixo,

devo evitar o uso de veículos motorizados,

devo refazer a casa do zero para adaptá-la ao quinto Evangelho verde e muitas outras coisas.

Decretou-me que a Agenda 2030, inventada numa outra montanha encantada chamada Davos, faz parte do Grande Reset, um dos mais coloridos dogmas da nova religião.

Completamente chocado, tive alucinações graves.

Numa deles, vi os frescos de Michelangelo na Capela Sistina coberto de trapos, a figura de Deus em jeans azúis e t-shirt justinha.

Adão apareceu vestido com pavoroso, horroroso arco-íris do Orgulho Gay (paneleiragem já não se pode dizer), enquanto atrás de mim ria uma lusa e conhecida figura, João Castello Branco, por ter verificado que certas partes do corpo dos frescos de Michelangelo na Capela Sistina estavam tapadas, devido à exponencial estupides de um pintor italiano Daniele Ricciarelli conhecido como il Braghettone.

Greta, do alto de seu conhecimento teológico, assentiu com convicção. Tudo estava contra mim, e o sonho virou pesadelo.

O polícia espanhol de nome feminino também invadiu e fez-me sentir perdido, entre psiquiatras, demónios, teólogos e coloridos militantes agressivos e furiosos!

Mas "a vida é um sonho, e os sonhos são só sonhos".

Vasco da Gama veio me salvar: suado, trémulo, mas resuscitado e imponente.

O Asilo Ocidental havia desaparecido, nem mesmo uma sombra de Mefistófeles.

Michelangelo havia retornado ao génio universal que é e sempre será.

Greta continuava uma garota com síndrome de Asperger e aquela cara de tolinha que tantos tarados e cefalados veneram.

O Asilo Ocidental havia desaparecido por magia.

Mas terá mesmo desaparecido, ou não?

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