São 740.000
São 740.000 portugueses os pobres mais pobres contabilizados pelas estatísticas nacionais.
São 7,4% da população do País (vêr Público de 11 de Novembro de 2007).
Vivem com menos de €8.0 por dia.
Leu bem; € 8.0 por dia.
Pouco mais do que um bitoque que muitos de nós, à hora de almoço, mastiga nas “manjedouras” no centro das grandes cidades deste País que desde que me conheço tem sido, na pior acepção da palavra padrasto para os seus filhos.
E ainda ficam de fora os séculos anteriores para não nos envergonharmos mais.
E por favor não me venham com a conversa paternalista e moralista da treta, dizer que esta gente não quer trabalhar!
Existe isso sim uma injustiça social gritante em que é cada vez mais evidente a petulância imoral, estúpida e mesquinha de uns quantos que fazem alarde das suas posses (sabe-se lá de que maneira chegaram a essas posses), perante uma classe média atrofiada, sem peso nenhum na política e organização portuguesa e uma classe pobre cada vez mais pobre e numerosa.
Já vivi e conheço o suficiente para com toda a certeza afirmar que somos incapazes de solucionar as questões mais básicas de uma vivência no mínimo digna para todos os nossos compatriotas. Faz parte da nossa cultura gostar de ter "os nossos pobrezinhos, os nosso pedintes".
Por isso devia haver contenção e um pouco de vergonha quando falamos das deficiências sociais noutros países e não olhamos para o nosso umbigo onde o mau cheiro tresanda há muito tempo.
Se houve esperança após o 25 de Abril essa foi morta à nascença, pois nenhum dos partidos que nos governou foi até hoje capaz de eliminar esta chaga social.
Mesmo após a entrada na Comunidade Europeia e com todo o dinheiro que se recebeu fomos incapazes de ultrapassar os limites mínimos de vivência e bem estar social.
Fomos acusados de incompetência em gestão de dinheiros comunitários, chamados de ladrões.
Remetendo-nos vergonhosamente para o fim da lista, inclusive atrás de Países que há bem pouco estavam em pior situação. Simplesmente degradante!
Podemos acusar este povo de falta de cultura, de analfabetismo e de falta de cuidado nos seus gastos e despesas. É verdade mas não é tudo.
Após o 25 de Abril de 1974 as facilidades, a falta de preparação e cultura, entre muitas outras razões, foram responsáveis pela rebaldaria que se gerou na altura e se projectou nas gerações seguintes.
Nós não queríamos que os nossos descendentes passassem o que passámos durante o governo fascista de Salazar e seus esbirros! E errámos muito começando por nivelar por baixo.
E agora ao fim de 34 anos, continuamos como anteriormente a referir-nos a pessoas que vivem no limiar de pobreza, da ajuda de amigos ou familiares.
Tal como nos anos sessenta! Na miséria quase completa!
E isto num país de 10 milhões de habitantes em plena Europa dita "democrática" e tolerante, lado a lado com um País vizinho que nos dá exemplos de desenvolvimento.
Nem assim somos capazes de o imitar, de aprender.
Em Portugal com toda a normalidade e imoralidade desculpam-se dívidas familiares de 12 milhões de Euros, entre outras (muitíssimas) situações de gritante injustiça em que os lucros da banca de centenas de milhão de Euros são um exemplo gritante.
É o mercado a funcionar, dirão os nossos “inteligentes” economistas (simples contabilistas) e alguns comentaristas de imprensa que venderam a alma ao diabo (leia-se patronato) para poderem engordar e lambusarem-se com as sobras que lhes atiram para debaixo da mesa ou para o canto da sala.
Já dei para este peditório o suficiente, mas ainda me comovi quando ouvi e vi no Pavilhão Atlântico a Mariza cantar um poema sobre o meu povo.
Com alguma dor, há algum tempo, dou por mim a afastar-me cada vez mais de Portugal.
Neste momento muitos dos seus filhos e seguramente os melhores, Portugal não os merece. Por isso se vão para sempre.
Está realmente na hora de sair!
Quando é necessária uma revolução a sério, pouco me interessa uma pseudo evolução que seguramente não irá alterar nada do que existe de mal na nossa sociedade.
Não sou daqueles que se contenta por haver uma rosa no entulho.
Normalmente retiro-a com cuidade e vou plantá-la num canteiro limpo!
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