Corto Maltese
“Os Balcãs são a circunavegação mediterrânea de uma palavra árabe, "Sevdah ", que significa "melancolia negra", a grande mãe das oscilações de humor, da nostalgia e do encantamento, palavra que com o exército islâmico chega à península ibérica e se hibridiza com o latim tornando-se "Saudade" [...];
Os Balcãs
são o chocalhar de um trem no inverno que, após cruzar o rio da Europa por uma
longa ponte de ferro, entra na Bulgária, em busca das montanhas em meio a
paredões de neve.
Os Balcãs
são também o Bósforo com neve, quando o desfiladeiro se transforma num fiorde
norueguês, no meio aos gritos dos muezins e do uivo agudo do vento; “eu sou o
vento norte varrendo a ponte Galata”, e um velho que, nas ruas estreitas do
morro de Pera, sem dizer uma palavra te entrega um chá de cor âmbar porque
entendeu que você está com frio [...];
Aqui, estes
são os Balcãs para mim. E perdoem-me se eu não falei sobre guerras e secessões,
mas sobre notas bastardas, vozes e frequências que rompem as fronteiras,
ignoram vistos, passaportes e línguas, para irem directos ao coração dos homens.
"
Paolo Rumiz,
de “Os Balcãs. Notas bastardas que falam ao coração do homem”.
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