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Como é possível que na memória de um Povo e de um País como o nosso se tenha passado tanto tempo sem haver necessidade (devia ser uma obrigação) de analisar e avaliar profundamente o que foi a Guerra Colonial travada em três frentes simultâneas e que nos sangrou até à exaustão.
Como foi possível, depois de ver ontem 17 de Outubro no programa A Guerra Colonial no Canal 1 da RTP, ouvir de alguém como ouvi, um comentário de que desconhecia em concreto os factos e as razões que deram origem ao mais sangrento conflito e ao mais desumano tratamento que foi infligido a um povo inteiro por um governo cinzento e tenebroso durante os anos de 1961 a 1974.
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Pouco ou nada se fez para que as recordações dessa época triste, angustiante e medonha servissem ao menos para as gerações vindouras tomarem conhecimento real do que foram esses tempos.
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Penso que não foi feito por vergonha. Vergonha do que fomos, do que fizemos, dos males que provocámos a populações inteiras e acima de tudo e por causa disso, dos males que fizemos a nós próprios, dos males que sofremos e ainda estamos a sofrer lambendo, ás escondidas e envergonhados, as feridas que tardam em sarar.
Somos um povo que não respeita a sua memória, porque também não tem educação nem cultura suficiente para reconhecer, analisar e estudar o que de bom e de mau fez na sua história.
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Se até hoje não conseguimos exorcizar este demónio da Guerra Colonial como iríamos ter capacidade de exorcizar outros demónios como o Fascismo, a Inquisição, o isolamento perante a Europa, a insegurança perante os nossos vizinhos Espanhóis e o latente atraso cultural e económico?
Estive na Guiné, de 1971 a 1973 e senti todos os tormentos que os da minha juventude (?) sentiram.
Espero que este trabalho documental televisivo tão bem feito por quem como só Joaquim Furtado poderia fazer, revitalize e esclareça consciências e nos faça sentir respeito por quem forçado fez algo do qual não nos devemos esquecer, porque foi e é a nossa existência como povo e País com mais de nove séculos de existência.
Por pouco esclarecimento que este bom trabalho de Joaquim Furtado dê a um povo anestesiado e amante do Telelixo, já será o suficiente para quem secularmente teima em dormir sem ver que “lá fora” o Mundo avança.
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